Propósito no trabalho: o que podemos aprender com os artesãos indianos
Quando Aruna Ranganathan, professora de comportamento organizacional da Escola de Negócios da Universidade de Stanford, realizava uma pesquisa na Índia, visitou alguns mercados locais de artesanato. Neste processo, percebeu algo curioso: mesmo sendo estrangeira, conseguia descontos maiores dos artesãos, do que, por exemplo, a sua guia turística local.
A profissional ficou tão intrigada que passou um ano pesquisando o motivo pelo qual aquilo aconteceu. A conclusão da pesquisa foi muito interessante: os artesãos percebiam que ela apreciava o seu trabalho. Esse fato corrobora o que sempre buscamos aqui na Vokse e verificamos junto aos nossos clientes: o propósito move as pessoas.
Afinal, como diria Sri Prem Baba em seu famoso livro sobre o tema: “A prosperidade, quando é fruto do encontro consigo mesmo, é um presente divino que está a serviço do propósito maior. Mas enquanto não tocamos esse núcleo interno, tudo aquilo que produzimos e construímos é para fugir ou para nos protegermos de alguma coisa”.
Mais do que o propósito em si, a pesquisadora também concluiu que há uma relação muito forte entre as pessoas e os produtos que desenvolvem. Em um artigo publicado na revista Administrative Science Quarterly, ela chama esse fenômeno de “apego ao produto”.
Para estudá-lo, realizou uma observação em Channapatna, uma cidade no sul da Índia conhecida por suas tradicionais joias de madeira e brinquedos. Quando os artesãos se reuniam com compradores que compreendiam e apreciavam seu trabalho, eles se importavam menos com as recompensas financeiras. Quando lidavam com compradores que consideravam menos exigentes, priorizavam ganhos financeiros.
“Esses artistas desenvolvem profundo amor e carinho por seus produtos de trabalho e começam a antropomorfizá-los e considerá-los seus ‘bebês'”, diz ela. Desta forma, escolhiam aqueles compradores que pareciam mais propensos a “cuidar bem” e valorizar os itens.
Ranganathan descobriu ainda que o apego cresce dependendo da extensão do envolvimento dos artistas no processo de produção, que para alguns envolvia várias etapas. O apego foi particularmente forte para aqueles cujo artesanato incluía os processos. “Quanto mais eu suo, mais eu amo”, disse um dos artesãos. Obviamente que, nos casos em que os produtos não eram vendidos especialmente por quem produzia, a análise era mais fria e focada realmente no valor financeiro e na margem de lucro.
Em dois artigos recentes aqui no blog da Vokse, um sobre millenials e outro sobre fator humano, trouxemos algumas mudanças que o mercado de trabalho tem enfrentado. Entre os pontos levantados, a questão do propósito aparece fortemente dentro da estratégia de retenção de profissionais em qualquer empresa. Muitas das pesquisas recentes mostram que o universo do trabalho deve estar cada vez mais conectado a desafios e às aspirações pessoas de cada indivíduo, em equilíbrio inclusive, com a vida profissional.
Temos realmente uma grande lição aprendida com os artesãos indianos.